Os benefícios da prática do Ninjutsu nas crianças




 O homem da Pré-história (caçador/coletor), para sobreviver, dependia das suas capacidades físicas, tendo que lutar, caminhar, correr, saltar, para suprir as suas necessidades básicas (comida, água, abrigo, materiais para se aquecer) o que fazia dele um ser muito ativo. Progressivamente, com a sedentarização começou a procurar no espaço próximo que o rodeava a sua sobrevivência, e virou-se para o cultivo da terra. Primeiro, tratou-a com os seus próprios meios e, mais tarde com a ajuda dos animais, continuando ainda assim a ser muito ativo, de forma a conseguir o sustento para si, para a sua família e para a sua comunidade.

 O progresso, particularmente nos domínios socioeconómicos e tecnológicos, operou alterações significativas ao nível do comportamento, com repercussões no quotidiano dos indivíduos, tornando possível ao homem, viver, trabalhar e mesmo brincar, quase sem movimento e esforço. Estas mudanças promovem novos estilos de vida, reduzem a solicitação para que as populações sejam fisicamente ativas (Bouchard et al., 1994) e adotem estilos de vida sedentários. 
 Ora, é sabido, que a Atividade Física é amplamente reconhecida pelos benefícios que acarreta para a saúde e bem-estar dos indivíduos. Relativamente às crianças e jovens a Atividade Física é uma componente fundamental para o seu desenvolvimento e crescimento, sendo geralmente referidos como “naturalmente ativos”. No entanto, apesar de ser o grupo etário mais ativo, os especialistas em saúde têm vindo a preocupar-se com os níveis de Atividade Física das crianças nas últimas décadas, pois os problemas relacionados com o sedentarismo, nomeadamente a obesidade, têm aumentado consideravelmente.
 As crianças, principalmente nos meios urbanos, vêm reduzidas as oportunidades de desenvolver Atividades Físicas de forma espontânea. Os estilos de vida são cada vez mais sedentários, devido a problemas relacionados com o tráfego, a insegurança e a ausência de tempo, espaço e equipamentos lúdicos adequados às necessidades das crianças. Os seus quotidianos são demasiadamente preenchidos e regulamentados, as oportunidades e o espaço para as crianças brincarem são cada vez mais limitados (Neto, 2001). 
 Uma vez que a infância e a juventude são tidas como os períodos etários onde os hábitos de Atividades Física e desportiva se adquirem e consolidam, torna-se essencial a criação de programas de promoção que incentivem de forma eficaz as crianças e jovens a optarem por comportamentos ativos em detrimento do sedentarismo. Seabra et al. (2008), na pesquisa que realizaram, refere exatamente a importância da aplicação destes programas variados de atividades físicas.
 A importância atribuída à Atividade Física tem crescido de forma proporcional com o aumento das investigações realizadas. Atualmente, existe na literatura a evidência unânime, que a prática de Atividade Física regular é benéfica para a saúde.

Definição e Características da Atividade Física
Na literatura, há vários conceitos de Atividade Física. Para Caspersen et al.(1985), a Atividade Física é considerada como qualquer movimento produzido pelos músculos esqueléticos que resulte num aumento do dispêndio energético relativamente à taxa metabólica de repouso.


Esta definição de Atividade Física salienta a importância do dispêndio energético, não importando o tipo, a frequência, a duração, a intensidade ou o contexto da sua realização (no lazer, no trabalho, na escola, no desporto, etc.).


Embora exista uma forte ligação entre conceitos de Atividade Física e dispêndio energético os mesmos não são sinónimos (Ekelund, 2002). A Atividade Física é um comportamento enquanto que o dispêndio energético é o resultado desse comportamento.

Atividade Física e Saúde



 Nos últimos anos tem-se assistido a uma alteração e diminuição nos níveis de Atividade Física, uma vez que a sociedade moderna, repleta de novas tecnologias, tem alterado de um modo conspícuo o estilo de vida dos cidadãos. É evidente que, nas sociedades marcadamente industrializadas, as referidas alterações promovem novos estilos de vida em que a maioria das ocupações, os transportes e as tarefas domésticas requerem menor esforço físico induzindo, na maior parte das situações, ao sedentarismo (Killoron et al., 1994; Montoye et al., 1996; Paffenbarger e Lee, 1996; Sallis e Owen, 1999). É crescente a evidência que a maioria das pessoas (crianças, jovens ou adultos) que vive em "grandes" cidades revela padrões de atividade física muito reduzida. Este facto, aliado à aquisição de novos hábitos alimentares, hábitos tabágicos, etc. é, em parte, responsável por um vasto leque de patologias designadas, muitas vezes, de doenças da civilização atual, tais como, doenças cardiovasculares, hipertensão, obesidade, diabetes tipo II, osteoporose e alguns tipos de cancro (Bouchard et al., 1994; Killoron et al., 1994; Montoye et al.,1996; Pate et al., 1995; USDHHS, 1996; Sallis e Owen, 1999).

 Ora, a Atividade Física regular é vista como um comportamento que reduz as causas da mortalidade e promove resultados benéficos para a saúde. Além do efeito protetor da atividade contra estas patologias, a sua regularidade contribui também para uma melhor qualidade de vida (Sallis e Patrick, 1994).

 Nas crianças, existe uma concordância generalizada de que devem ser regularmente ativas e que a variedade de Atividade Física é um importante fator a ter em conta nos estilos de vida dos mais jovens. Apesar disso, ainda é difícil determinar os benefícios físicos e psicológicos da Atividade Física durante a infância (Harro e Riddoch, 2000). Embora nas crianças a relação entre a Atividade Física e saúde não se apresente tão clara como nos adultos (salvo raras exceções as crianças e jovens são por natureza saudáveis), a presença de alguns fatores de risco das doenças cardiovasculares, como a hipertensão, a hipercolestrolemia e a diabetes tipo II (Guerra et al., 1998; Lauer et al., 1988) é já cada vez mais comum em crianças e adolescentes.

 A participação em Atividade Física regular, durante a infância, providencia benefícios imediatos na saúde, afetando positivamente a composição corporal e músculo-esquelética (Malina e Bouchard, 1991) e reduzindo a presença de fatores de risco de doenças cardiovasculares (Gutin et al., 1994). Para Cavill et al (2001), a Atividade Física pode ter múltiplos benefícios na saúde e bem-estar dos jovens (5-18 anos), nomeadamente: redução dos fatores de risco de doenças crónicas (pressão arterial, perfil lipídico, estrutura óssea); redução do excesso de peso e obesidade; benefícios psicológicos (bem-estar psicológico, aumento da autoestima e redução de sintomas de ansiedade e depressão); ajuda no desenvolvimento social e moral. 

 A promoção da saúde, entendida como o processo de habilitar as pessoas para o aumento do controlo e participação na melhoria da saúde (Matos et al., 2003), é fundamental nos mais jovens, porque os fatores de risco na infância tendem a predizer fatores de risco em jovens e adultos e porque a investigação tem mostrado que a saúde dos jovens é a base para sustentar a saúde no adulto (Wadsworth, 1999).

 Capacidades Motoras
 As capacidades motoras são o conjunto de propriedades do organismo que se revelam no processo de interação com o meio ambiente. São condições prévias a partir das quais o homem e o atleta desenvolvem a sua habilidade técnica.

 Dividem-se em dois grupos: 

 Capacidades Condicionais – determinadas pelos processos que permitem a transformação da energia química em energia mecânica, através dos processos metabólicos localizados ao nível da estrutura muscular e dos diversos órgãos. 

Resistência- É a capacidade de suportar e recuperar da fadiga.

  1. Geral - quando é solicitada mais de 1/6 da massa muscular . É limitada pelo sistema cárdio respiratório. 
  2. Local - quando é solicitada menos de 1/6 da massa muscular total. É determinada pela resistência geral pela força e capacidade anaeróbica 
Força- É a capacidade que permite reagir contra uma resistência através da contração muscular. Esta possibilita, entre outros esforços: saltar, empurrar, levantar, puxar... 


O desenvolvimento da força pode ser:

  1. Geral – quando visamos o desenvolvimento de todos os grupos musculares;
  2. Específicas – quando visamos o desenvolvimento de um ou vários grupos musculares característicos dos gestos de cada modalidade. 

Flexibilidade- Capacidade que o atleta tem para executar ao longo de toda a amplitude articular movimentos de grande amplitude por si mesmo ou por influencia auxiliar das forças externas. 
  1. Geral – consiste na amplitude moral de oscilações de articulações especialmente nas principais articulações. Ombro anca e coluna vertebral. 
  2. Específica – consiste na amplitude necessária para a realização de movimentos específicos de cada modalidade. 
Velocidade- Capacidade de executar movimentos no mais curto espaço de tempo. É a capacidade de executar ações motoras no mínimo lapso de tempo. 


Capacidades Coordenativas – Determinadas pelas componentes nervosas, fundamentalmente ao nível dos processos de condução dos estímulos no SNC.

Orientação;
  •  De encadeamento; 
  •  De diferenciação; 
  •  De equilíbrio; 
  •  De ritmo; 
  •  De reação; 
  •  De mudança 
Tácteis - Recolhem a informação sobre a pressão nas várias partes do corpo

Visuais - Recolhem a imagem do mundo exterior 

Estáticos dinâmicos - Informam sobre a aceleração do corpo (particularmente a posição da cabeça) colaborando desta forma para a manutenção do equilíbrio 

Acústicos - Por onde percebemos os sons e os ruídos

Cinestésicos - Por meio dos quais recebemos informações sobre tensões produzidas pelos músculos 

Benefícios da Prática do Budo Taijutsu




 É importante ressalvar que, através do ensino das Artes Marciais, mais especificamente, do Ninjutsu, acreditasse que é possível aprimorar e desenvolver aspetos cognitivos, psicomotores e morais.
 Ainda com relação aos aspetos psicomotores, pode-se considerar que o Ninjutsu é capaz de desenvolver importantes habilidades motoras. Marco Antonio Otávio cita como habilidades motoras desenvolvidas na aprendizagem do Ninjutsu, a lateralidade, o equilíbrio e a coordenação motora (Otávio, 2003). 
 Segundo Haywood e Getchel (2004), as experiências com movimento auxiliam na perceção espacial e o equilíbrio a medida que a criança cresce, costuma ser mais influenciado por informações cinestésicas. Então, o Ninjutsu, através de situações de desequilíbrio, desenvolve o equilíbrio dinâmico dos praticantes e apresenta situações onde o controle da sua posição no Dojo interfere diretamente com o seu bom desempenho, na aplicação da técnica.
 A perceção espacial é necessária durante os treinos, afinal, no Ninjutsu, o praticante precisa ajustar a sua posição para que possa realizar o seu próximo movimento (seja ele ofensivo ou defensivo). A lateralidade é definida como uma predisposição (ou preferência) ao uso de um dos membros simétricos do corpo (Rocha, 2008). Segundo Heraldo (2006), a lateralidade pode ser trabalhada através de atividades de combate.
 Outras qualidades físicas que também são melhoradas através da prática das Artes Marciais são a resistência aeróbica, a resistência muscular e as valências físicas relacionadas ao condicionamento anaeróbico, potência muscular força máxima (Franchini, 2008).
 Desde a história da humanidade, o homem movimentou-se em busca de alimentos para também assegurar a sua própria sobrevivência (Ramos, 1992) sendo que o uso do corpo como arma através da luta é uma manifestação tão antiga como o homem. Pode considerar-se que o confronto físico faz parte da atividade da espécie humana e portanto a sua origem perde-se no tempo. Para Figueiredo (1995), os desportos de combate tiveram origem em culturas medievais, ou em culturas idênticas.
 Desta forma através das lutas o homem pode canalizar a sua agressividade de forma harmoniosa sem violência, contando que, para isso, siga as regras da arte marcial praticada e nunca utilize os seus conhecimentos de forma inadequada.
 O Ninjutsu é uma Arte Marcial onde a hierarquia é bastante respeitada, característica que está presente em muitas das artes marciais. Não se trata de uma mera posição de “status”. Em alguns países orientais, todos são ensinados a respeitar os mais velhos, os seus mestres e anciãos. Conservar esse respeito aos mais experientes é uma forma de resgatar esses valores que estão esquecidos na nossa sociedade contemporânea.
 É importante também que regras claras, como “não é permitido fazer uso de violência durante os treinos”, sejam insistentemente explicadas e relembradas. 
 Um dos papéis do professor é mostrar ao aluno que as técnicas aprendidas durante as aulas não devem ser utilizadas em outras ocasiões ao menos que se trate de uma situação onde a própria integridade física do aluno esteja em risco, nesse caso utilizando o conhecimento que ele possui agiria em legítima defesa.
 Ao iniciar na prática do Ninjutsu o aluno aprende a controlar a sua raiva e passa a fazer dos princípios filosóficos desta Arte Marcial um caminho a ser seguido dentro e fora do Dojo. Portanto, o Ninjutsu também pode desempenhar esse papel de combate à agressividade, o que o torna uma importante ferramenta pacificadora. 
 Ainda concordando com Da Silva (2000) a Arte Marcial é classificada pelos sujeitos como uma forma de desenvolvimento pessoal, levando a uma melhor qualidade de vida. Em nenhum dos depoimentos a prática de artes marciais foi considerada uma forma de expressar a raiva ou meio de atingir um alto desempenho em lutas, pelo contrário, as lutas seriam um modo de conquistar o controlo destes sentimentos de raiva, através do domínio do corpo e da mente. Características dos treinos tais como estabelecimento de uma hierarquia (por graduações ou por tempo de prática) ou exigência de disciplina e controlo, podem ser um dos fatores que interfiram na forma como os indivíduos aprendem a lidar com a própria raiva e a conter impulsos.


Adaptando o ensino do “Ninjutsu” às crianças




 O Ninjutsu na condição de Arte Marcial tradicional, sem a existência de competições, tem portanto a necessidade de criar um ambiente estimulante e desafiador às crianças. Estas Arte Marcial têm como principal objetivo o auto aperfeiçoamento do praticante.
 O Ninjutsu tal como outra atividade, têm que se adaptar às necessidades específicas das crianças, respeitando os seus períodos críticos, estimulando assim as áreas em desenvolvimento. 
 Soares et al. (1992) afirmam que em um jogo qualquer:
 Quanto mais rígidas são as regras dos jogos, maior é a exigência de atenção da criança e de regulação da sua própria atividade, tornando o jogo tenso. Todavia, é fundamental o desenvolvimento das regras, porque isso permite à criança a perceção da passagem do jogo para o trabalho.
 Para Miranda et, al (1983) o brincar para a criança é muito importante, aquele que as proíbe, proíbe os meios de desenvolvimento físico, superiormente fornecido. A atividade dos jogos para os quais os instintos nos impelem é essencial ao bem-estar do corpo, a construção da personalidade e ao reconhecimento do mundo externo e interno. Portanto, é de suma importância a criação de espaços onde as crianças possam-se relacionar, aprender, criar, e principalmente brincar.
 Para Fachada (1997) é importante elaborar uma teoria psicológica que estabeleça relações entre o comportamento, o desenvolvimento da criança e a maturação do seu Sistema Nervoso Central (S.N. C), pois só através destas medidas podem-se construir estratégias educativas, terapêuticas e reabilitadoras adequadas às suas necessidades específicas. A psicomotricidade, desta forma, traduz a solidariedade entre a atividade psíquica e motora. A ludicidade tem assim a sua importância evidenciada, pois se não favorecermos o processo de desenvolvimento dos alunos, eles não podem “agir com, pelo e através do corpo”, se as aulas tradicionais a que são submetidos não favorecem este objetivo.
 Os critérios julgados importantes, e adotados, para desenvolver as atividades pertinentes à temática Artes Marciais no contexto infantil foram:
  1. Lecionar os motivos, o contexto histórico da criação da Arte Marcial determinada e o seu desenvolvimento histórico por meio de jogos lúdicos e ilustrativos.
  2. Utilizar-se de atividades lúdicas que permitem aos alunos explorar os fundamentos básicos da Arte e, preferencialmente, que a atividade possua alguma semelhança com a prática da Arte escolhida.
  3.  Lecionar as técnicas dos golpes aos alunos, apresentando os critérios para sua execução, e ensinando segundo a capacidade motora e dentro dos limites de segurança em sua aplicação.
  4. Propor atividades que permitam à criança explorar situações de combate corporal em forma de brincadeira, como braço de ferro, tração à corda, entre outras (é recomendado que sejam atividades com equilíbrio de força, coordenação motora e habilidade entre os praticantes, para que a atividade não fique desestimulam-te).
  5. Apresentar o código de ética dos Ninjas e explicar a influência na criação do Ninjutsu, por meio de jogos e atividades lúdicas.
  6. As aulas de Ninjutsu para crianças, devem ter uma componente bastante lúdica, recorrendo nos escalões mais jovens (6 aos 12), à psicomotricidade Infantil.
  7. Respeitar os períodos críticos em que as crianças se encontram. Organizar os treinos de forma a estimular o desenvolvimento dessas qualidades.


Amatsu Tatara

Comentários